segunda-feira, 3 de dezembro de 2007

Quanto vale o trabalho?

O trabalho como criação humana estruturado sistematicamente entre o homem e o Estado a que ele pertence, é recente e, portanto, plástico no contexto em que está inserido. Assim, a constante modelação dos diversos paradigmas que regem a ação de trabalhar e suas conseqüências, perpassa por questões éticas e econômicas que devem ser analisadas em cada estudo sobre o trabalho humano após o Renascimento Moderno do comércio e do antropocentrismo (séculos XIV – XV).
Desse modo, cabe lembrar que a concretização do capitalismo comercial na Europa (refletida no “Novo Mundo”) e a formação dos Estados Modernos, culminaram na proliferação de ideologias da classe burguesa que deteve o poder nesse contexto histórico. Com isso, definiram-se as concepções hoje massificadas de dignificação do homem por seu trabalho, em prol do crescimento do Estado, e a valorização da riqueza material em detrimento às virtudes morais. Sabendo-se disso, pode-se analisar as conseqüências contemporâneas da manutenção da ótica do trabalho burguesa que predominou desde a modernidade até os dias atuais.
Em primeiro lugar, a força dignificante relacionada ao trabalho promoveu e promove uma série de estigmatizações sociais devido à hierarquização das diversas ocupações do homem, que culmina em graus distintos de aceitação social do indivíduo (um catador de lixo que trabalhe dez horas por dia e um juiz que trabalhe as mesmas dez horas são igualmente dignos perante a sociedade?). Além disso, a busca pela riqueza gerada pelo labor fez com que a arte – antes tida como marca de inspirações superiores de certos homens – ficasse atrelada ao mercado de tal forma que o trabalho artístico tornou-se submisso ao mecenarismo e sujeito às ordens do capital.
A partir do exposto acima, conclui-se que, embora a humanidade tenha construído as noções de trabalho na sociedade e essas concepções estejam aptas a mutações; há, hodiernamente, reflexos concretos dos efeitos das formas de labor geridas pela burguesia moderna que atuam na segmentação social e na banalização da criatividade do homem. Assim, a busca do poder material ao invés da busca pela virtude moral, é cada vez mais fixada na sociedade por meio do trabalho, juntamente com as ideologias que o embasam.

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